terça-feira, 13 de maio de 2014

...curtinhas do Benj...

- Vovô, sabia que eu nasci?
(um pouco depois eu contar sobre o parto e mostrar as fotos)

Depois que o pai contou para ele algo que fez quando criança, Benjamin começa a contar as coisas que fez assim:
- Quando eu era criança...

A troca fofa do 'já' e do 'ainda':

Quando ainda não fez uma coisa: - Eu já não assisti esse desenho.
Quando já fez uma coisa: - Ainda vi esse desenho.

Viu o Papai Noel e confundiu com o Papai do Céu, expliquei quem era e ele perguntou:
- Eles brincam juntos?


quinta-feira, 17 de abril de 2014

Necessidades, desejos e conexão - a birra nossa de cada dia!

Esse post maravilhoso da Penelope com citações da Laura Gutman me transportou para outra dimensão. Nesse outra dimensão eu pude encarar minhas necessidades, aquelas que estão aqui escondidas no peito há tanto tempo que muita sujeira e poeira as encobriam.

E quais são essas necessidades? Cheguei a uma frase que, para mim, defini bem: ser olhada e ouvida, ou melhor, me sentir assim. Que para mim é sinônimo de ser amada.

Foi sendo mãe que entendi como se olha de verdade para uma pessoa. Foi com Benjamin que entendi como se ouve, como se enxerga um outro ser. Olhar é muito mais que pousar os olhos, ouvir é muito mais que deixar que o som adentre por nossos ouvidos.
Eu sei quando pouso meus olhos sobre ele e quando eu enxergo e ouço meu filho de verdade, mas não sei se consigo falar como isso acontece, porque não é uma coisa muito racional. É estar aberta com todo meu corpo, mente e espírito para ele. É ouvir o que ele fala sim, mas é também ler em seus olhos, em seus traços, em seu corpo o que ele quer me dizer de verdade. É sentir o que ele está sentindo. Além disso tudo, é também não julgar. É desligar meu filtro do julgamento e simplesmente deixar que a mensagem venha. Ligar a empatia e me conectar com esse serzinho maravilhoso que o Universo me confiou tão generosamente.

Eu sei a diferença entre pousar os olhos e enxergar pelas sensações do meu corpo e pelo fluxo da minha mente. Às vezes o olho brincando e penso em todas as milhares de coisas para fazer, é como estar em outra sintonia. Em outras, vejo a mesma cena e consigo estar inteira nesse olhar, observar cada movimento dele e entrar em sua sintonia. Conexão é a palavra.

Não sei como aprendi isso, mas sempre me disseram que sou boa ouvindo, então devo ter uma predisposição para isso. Mas depois de Benjamin fui aprendendo a fazer isso com outras pessoas. E é incrível o quanto se aprende com uma atitude tão simples. É como ler nas entrelinhas, como ver os bastidores de uma peça... é como ouvir além do que as palavras dizem.

Lembro de um momento antes de engravidar em que eu percebi o quanto as palavras podem ser vazias. Eu andava pela rua vendo as árvores e pensava como elas eram bonitas, que eu amava a natureza. As palavras vinham, mas eu não sentia o amor dentro de mim. Eu podia dizer "eu te amo" sem sentir isso. Pensava que não era possível que o amor ou qualquer outro sentimento fosse simplesmente esse conjunto de letras ou mesmo um pensamento, era preciso sentir. Benjamin nasceu e eu aprendi a sentir. Ou reaprendi. E agora eu posso dizer "te amo, filho" só por falar, mas também posso sentir isso no meu peito e entrar no fluxo desse sentimento.

Para mim, ver e ouvir são a mesma coisa. Posso ver e ouvir a parte racional, verbal, objetiva com meus olhos e ouvidos, ou posso me abrir completamente para um ser, situação e usar meus outros sentidos para realmente entrar no fluxo.

Fiz todo esse raciocínio doido para dizer que o post da Penelope que me fez pensar nas minhas necessidades primordiais e as trouxe a tona de uma vez me fez perceber em quantas vezes eu agi por essas necessidades para que as pessoas ao redor enxergassem além das minhas atitudes.

Ui, ficou complexo o negócio! Vamos 'objetivizar' a coisa usando os exemplos infantis que são tão mais fáceis de nos fazer enxergar:

- Ser visto e ouvido de verdade é uma necessidade básica humana (eu considero!)

- Benjamin tem um problema (pode ser sono, cansaço, fome etc). Eu não enxergo que ele tem um problema. Ele PRECISA ser visto, ele precisa que eu veja o seu problema (que ele mesmo não pode definir pela pouca idade) e o solucione.

- Talvez ele já tenha tentado formas sutis e eu não tenha visto. Como ele faz? FAZ ALGO QUE ME INCOMODE! Algo que ele sabe que vai me incomodar, algo que ele sabe que eu vou VER!


- Birras se encaixam totalmente nisso para mim! Além de nos incomodar elas são uma forma de os pequenos colocarem para fora o que ainda não conseguem expressar de outra forma.

- Ele quer me incomodar, mas não é simplesmente por incomodar. Ele precisa que eu me conecte com ele e veja além do incômodo, que eu encontre a origem dessa atitude.

- É como se a atitude dele (normalmente negativa, porque é isso que vai mexer comigo) fosse um pedido de ajuda. Um grito de socorro.

Ok, e como isso se aplica aos adultos?

Só posso falar por mim, mas minha necessidade é ser realmente ouvida e vista. Estou triste, chateada, irritada ou qualquer outra coisa... tenho uma atitude que sei (de forma normalmente inconsciente e que nem percebemos) que irá incomodar alguém. Esse é meu pedido deslocado de ajuda. Quero que, ao ser grossa (normalmente é isso que faço), a pessoa enxergue o que me fez ter essa atitude. Quero conexão. Sim, é uma birrinha adulta, porque de alguma forma não estou reconhecendo minhas necessidades e muito menos conseguindo expressá-la adequadamente.

Uau, que pensamento doido e confuso. Será que fará sentido para mais alguém?

Mas a questão que fica para mim é, se alguém me incomoda o quanto desse incômodo está em mim (porque encontrou eco no que eu penso sobre mim mesma) e o quanto é um pedido de ajuda?

Bora começar a olhar diferente para os mal humorados, para os irritantes, para os grossos (eu! rs), para os irônicos, os sarcásticos, os birrentos? E claro, para nossas crianças! Que necessidades têm? Que problemas as levaram a agir assim?



sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Frustação.... perfeccionismo e compulsão?

Li esse post bem bacana explicando a relação dos três elementos do título: http://naoperfeccionismo.wordpress.com/perfeccionismo-frustracao-e-compulsao/#comment-489

E depois da leitura, fiz uma reflexão que se transformou nesse [gigante] comentário:

Adorei essa postagem! Desde que me tornei mãe o processo de auto conhecimento disparou, o perfeccionismo também. Mas entender o mecanismo faz TODA a diferença.
Uma questão sobre a criança frustrada, acho que a grande questão é aceitar o que consideramos "birra" justamente porque ela não sabe lidar com a frustração, ela nem sabe que está frustrada. Esse processo começa junto com o EGO, quando a criança começa a ser perceber como indivíduo, conhece o NÃO e inicia a separação fusional da mãe. Entende como tantas mudanças acontecem ao mesmo tempo? Tem até um termo Terrible Two, ou a adolescência do bebê rsrs...
Então, acho que o meu papel como mãe é primeiro acolher a frustração e a forma como a criança a expressa (pq ela não tem ferramentas para expressar melhor), depois de acalmá-la explicar o que aconteceu (ela ficou frustrada por tais motivos, tentar nomear os sentimentos) e dar as ferramentas para ela ir aprendendo a lidar com isso de outra forma.
E por que estou explicando esse processo de como o vejo sendo mãe? Para tentar entender o que nossos pais fizeram. A maioria dos pais não acolhe a frustração, eles ficam revoltados com o a forma que expressamos (chamam de birra, como se fosse uma manipulação, um joguete infantil para conseguir o que quer), tentam reprimi-la, sem explicação: "Não pode fazer isso e pronto. Engula o choro, se controle". Mais dia menos dia aprendemos a fazer isso, não por controle ou por aprender a lidar com aquilo, mas porque a consequência (castigo, apanhar, ou só o olhar torto dos pais, nós amamos nossos pais, queremos agradá-los, sermos considerados bonzinhos - só a ideia da retirada de amor nesse período é perturbadora) é muito pior. Eu acho que é ai que vira compulsão, porque essa frustração tem de sair de algum jeito, não temos ferramentas, dá-lhe compulsão.
E essa questão da retirada do amor é essencial. Meu filho teve um acesso de descontrole esses dias (ele tem 2 anos e 2 meses), eu consegui não me enfurecer junto (é meu primeiro impulso sempre), consegui abraçá-lo (ele se debatia) e dizer o que gostaria de ouvir nos meus descontroles: "Eu te amo, mesmo no seu descontrole, eu vou te amar sempre, vou estar sempre com você. Você vai se descontrolar até aprender a lidar com tanta emoção e eu vou estar com você. Vamos aprender juntos, pq tmb num sei". Mas dizer só não basta, é preciso sentir isso, respirar com calma, crianças sentem tudo. Então, enquanto o abraçava pensava na criança em mim sendo acalentada. Aceitava o descontrole dele e o meu, amava a ele e a mim. Foi libertador. E aos poucos senti o corpo dele relaxando, se entregando pro abraço, o choro diminuindo, até que ele me abraçou de volta. Apertado e sem choro. Depois disso, conversamos sobre como ele se sentia e fomos brincar.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Os dentes, as crises e de novo: o choro

Pinterest. @Marlene Dellazeri


Mais uma vez o choro volta a ser assunto no meu maternar (já falei disso aqui e aqui). Depois de entender e aceitar o choro do desmame noturno achei que já tinha aprendido a importância desse ato para a expressão das dificuldades e frustações de Benj. Ledo engano, essa sombra é bem mais complexa do que imaginei e ainda sinto que tem muito a desvendar sobre lágrimas no meu peito.

Tudo começou (no plano consciente) com uma cárie no dente do meu pequeno e a necessidade de melhorar MUITO a escovação (menasmain feelings). A escovação se tornou uma batalha diária, e tripla: ao acordar, depois do almoço e para dormir. Três rounds duros com uma criança que chorava como se estivesse sendo torturado e uma mãe frustrada por não conseguir fazer o filho entender a importância do hábito.

De um lado o choro "inaceitável", do outro a raiva e o desespero.Duas bombas explodindo juntas diariamente.

Então, em um momento de desabafo meu regado a lágrimas tão reprimidas. Percebi o quanto o choro aliviou a carga. Era como se aquela água salgada limpasse as dificuldades dentro de mim. Com elas iam meus medos, minha negatividade, minha vontade de desistir. As lágrimas abriam espaço no peito para a esperança, para vontade de tentar de novo.

Mais tarde, no mesmo dia, uma amiga postou esse texto no Facebook (Obrigada, Vânia!). E foi quando as fichas começaram a cair.

Benjamin está dando milhares de sinais diários de que precisa desabafar: a irritação, o choro fácil, chama o pai várias vezes, chora quando faço algo e mais ainda quando faço o contrário de algo. E mama, mama e mama. Pede mamá constantemente.

Quantas vezes nos última  dias fiz algo só para não ouvir seu choro? Quantas vezes dei de mamar contra vontade só pra ter silêncio? Quantos vezes dei colo e abraço para que ele NÃO CHORASSE? Quantas vezes quis calar e estancar suas lágrimas?

Nós nos mudamos de cidade recentemente, ele só vê o pai alguns dias da semana, está ficando longe de mim durante a manhã, falando e entendendo mais e mais, ficando cada vez mais independentemente e fazendo mais coisas sozinho... Sem contar na minha saudade do marido, nas minhas dificuldades com a mudança, nos problemas que não estou conseguindo lidar e que acabam alcançando ele também.Pois é, muito motivo para chorar nesse corpinho que completa 2 anos depois de amanhã.

E eu tentando parar o choro. Estancar as lágrimas. Quando ele só precisava chorar.

E hoje eu deixei que chorasse, acolhi o choro o melhor que pude: hora da janta e ele queria mamar, respondi que poderia depois que eu terminasse de comer. Chorou, chorou e eu fiquei com ele, fazendo carinho, olhando em seus olhos e aceitando seu choro. Mentalizando tudo que gostaria de dizer. Em alguns segundos o choro cessou, ele voltou a comer bem (já tem dias que troca o peito pela comida) e o senti mais tranquilo. Mais leve.

Bem vindo choro. Que eu saiba te aceitar e te receber. Seja do Benj, seja o meu, seja o de qualquer um.

Nota: ler novamente sobre o pedido deslocado que fala a Laura Gutman.
  

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Matrix

Quando eu vi Matrix achei que não tinha nada entender nele. Um conceito simples: pessoas aprisionadas em suas próprias mentes controladas por uma máquina que criava sua própria realidade.
Mas a cada dia depois do meu parto eu vejo o que tinha para ser entendido. A Matrix é real, ela existe e estamos aprisionados nela. Esqueçam os efeitos especiais e a parte emocionante do filme. Não há pílulas que nós façam acordar, só informação.
Comecemos do começo. A mulher engravida, sua vida vai mudar por completo, a começar pelo seu corpo. Há muitas coisas para se pensar, tornar-se mãe é um dos maiores marcos na vida de uma mulher. Mas ela SÓ se preocupa com a decoração do quarto do bebê, com o enxoval e o chá de bebê.
Ela quer normal, mas seja o que deus quiser. Cesárea, claro. Mais lucrativa, prática e limpa. Com hora marcada a mãe pode fazer cabelo e unha, talvez maquiagem. Médico não precisa acordar de madrugada nem perde nenhum compromisso. O bebê tem mais chances de usar a super UTI neonatal que custou milhões, também tem mais possibilidades de adoecer e tomar coquetéis de remédios. Doenças respiratórias crônicas, refluxo... O bebê começa a se tornar um cliente perfeito para a indústria farmacêutica.
A mãe pode ter depressão pós parto, sem os hormônios do trabalho de parto o vínculo com o filho fica mais difícil e a amamentação pode ter complicações. Ótimo! Paciente para psiquiatras, e bora enriquecer as empresas do leite artificial. Leite artificial que traz desconforto para o bebê, não tem todas as vitaminas necessárias, não fortalece a imunidade. Tudo bem, mais remédios para as doenças que virão e vitaminas sintéticas a cada consulta mensal.
E ai o bebê começa a querer comer (ou alguém decide que está na hora, o que importa se ele quer ou não?). Comece com uma bolacha maizena, e qualquer outro industrializado. Danoninho que delícia, vale por um bifinho! Yakult que é saudável. Papinha da Nestlé porque cozinhar dá muito trabalho. E assim vamos entupindo bebês com falsos alimentos, feitos com ingredientes que nunca ouvimos falar, com realçadores de sabor que viciam o paladar e garantem que aquela criança não gostará de legumes. Criança essa já com a imunidade em baixa pela cesárea, pelo leite artificial e pelos remédios (antibiótico) que já tomou. 
Mesmo assim ela é ativa! Como gosta de brincar e pular, ah, mas a mãe/cuidador tem tanto para fazer. "fica quietinha vendo tv, fica." Nas primeiras vezes não funciona, mas há tanta insistência que, sem opção, a criança se resigna e se aquieta. Fica quietinha vendo tv. O corpo ativo, vivo, vai dando lugar a apatia. Vê tv comendo doces ou qualquer comida que traga um mínimo de prazer.
Mas isso vai mudar! Vai chegando a hora da escola, agora sim ela vai ter atividades que auxiliam no desenvolvimento, muitos amiguinhos para brincar e gastar energia. Quanta coisa pra aprender.
Chega na escola e se senta na cadeira. Não pode falar com o amiguinho agora! Professor lá na frente fala e fala, despeja conteúdo. E o corpinho cada vez mais apático, energia sendo acumulada, mente se enchendo de inutilidades.
Brinca 20 minutos por dia, na hora do recreio. Isso se desistir do bolinho recheado que veio na lancheira. 
E a criança vai crescendo. O corpo cada dia mais atrofiado. Na adolescência reclamam que é preguiçosa. "Sai da frente dessa televisão!".
Nessa fase já entendeu que o corpo é só embalagem. O que importa é mente e alma. Para que perder tempo se exercitando? Para que comer bem? Já não sabe ouvir o corpo. Sono? Espera acabar a maratona da série preferida. Sede? Xixi? Espera o comercial. 

sábado, 10 de agosto de 2013

dois corpos. duas almas.

Pinterest. Lourdes Valle Ruiz

começamos como um só corpo, protegido em meu ventre você crescia.
sentindo a vida no meu útero, eu crescia.

aprendi a fluir com as águas assim que meu fluxo de sangue parou. 
conheci um ciclo novo e por nove luas estive acompanhada de você sob minha pele.

junto com a barriga, crescemos.
por dentro e por fora.

até que a onda veio. dançamos juntos em cada contração.
me dividi, me parti, nos separamos. E você veio. 
PAIXÃO. Como será que foi pra você?

corpos já separados, mas alma ainda é uma.
sou você, você sou eu. minha alma ainda gesta a sua.
emoções compartilhadas.

outra dança iniciada, dançamos junto e separados. 
num rodopio nos afastamos e então reencontramos.
um dois três quatro.

vou me dividindo, separando.
dando espaço pra que a sua alma pequenina nasça e cresça da minha.

dói. arde. é difícil parir alma.
mas juntos vamos nos separando e logo mais seremos dois.
cada qual com sua alma, seu corpo e sua vida.

muito de você fica em mim. de mim muito você leva. 
e numa dança solitária você irá apagar o eu para poder nascer o seu.

te amo, filho meu. dói não ter mais sua alma em mim nem a minha em você.

domingo, 28 de julho de 2013

Mais reflexões sobre o choro

Do Pinterest.
Usuário: Peace Whitin
As perguntas são a chave para o que está escondido dentro do nosso peito. Aprendi isso, e sempre que uma pergunta começa a martelar dou atenção a ela para encontrar o que está por trás da porta. Depois das reflexões do último post, comecei a me perguntar:

Por que alguns choros do Benjamin me incomodam tanto? Por que especificamente esse do desmame foi tão dolorido?

Pegunta feita. Ecoada.

Alguns choros me incomodam porque me parecem o reflexo da minha incapacidade de proteger, acolher ou "não frustrar" meu filho. Me incomoda, por exemplo, quando ele tem fome e ainda preciso fazer a comida. Porque se ele tem fome eu já deveria ter comida pronta, não? É isso que meu cérebro confuso me faz pensar. E por isso me incomoda.

E o do desmame?

Me incomoda porque é simples acabar com o choro. É só amamentar, ora essa. Não amamentar foi uma escolha minha, sou eu que estou causando o choro do meu filho. Sou eu e ponto. É incômodo frustar nossos filhos assim, né?

As relações são assim. A vontade de um esbarra no limite do outro. E eu sou mãe, algum dia me fiz pensar que a vontade do meu filho é lei. E foi, por muito tempo. Amamentação em livre demanda rolou por aqui até pouco tempo. Mas ai meu limite foi chegando, eu fui ignorando porque acreditei que deveria ser como era até os 2 anos.

Ai o limite chegou de vez. E ploft! A amamentação se tornou ruim para mim, incômoda, obrigação. E refletiu em toda nossa relação. E refletiu em toda minha vida. Na verdade, talvez minha vida tenha refletido na amamentação. Eu não sei o meu limite para tantas coisas, em tantas coisas me quebro para vontade do outro.

Quantas me quebrei para vontade do meu filho? E o que ensinei com isso para ele?

Que a gente deve ignorar nossos limites quando ama alguém.
Flexibilizar o máximo, mesmo que isso nos quebre.

E assim, dia após dia, com a amamentação e com tantas outras coisas na minha vida, fui flexibilizando, indo além dos meus limites. E me quebrando.

Me despedacei e hoje junto os cacos.

E o que meu filho ganhou com tanta flexibilidade? Uma mãe, que de tão despedaçada e esgotada, não consegue mais se entregar por inteiro. Sem luz, sem brilho. Que só tem conseguido reclamar e ver o negativo.

Calma, filho. A mamãe já descobriu o problema. Vou precisar juntar os cacos, colar, remendar. Mas eu volto, tá? Volto inteira!