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Encontrei esse texto ao procurar imagens para ilustrar o post. Vale a pena! Obrigada, Universo, por sempre me dar sinais. |
Benjamin chora. E quando quer, chora forte, alto. Chora muito.
O choro foi feito para ser incômodo para os adultos. É sinal de que algo vai errado.
Se chora de frio. Eu o aqueço. Se é de fome, o alimento. Se é sono, levo para o quarto quietinho e ajudo a dormir.
Mas o choro não é só o alarme. Ele também chora quando sente dor, seja de machucado ou de doença. Chora quando está triste porque alguém teve de ir embora. Chora de saudade porque o pai está longe.
Eu lido bem com o choro da dor. Esse sempre foi fácil de acolher, desde que ele tinha dias e chorava, imagino eu, da dor de não estar mais no meu ventre.
"Chora, filho. Chora que passa. Mamãe, tá aqui. Vem, me abraça. Dói, né? É ruim." - ele vem, abraça e chora. Se acalma. "Tá doendo ainda, meu amor?" - a cabeça balança para lá e para cá respondendo que não. "Então, vai brincar." - seco as lágrimas e ele vai, sorridente, a dor fluiu e ele se esquece. Costuma, inclusive, voltar a fazer o que causou o machucado.
E ele chora quando o contrario (esse é difícil também!). Chora quando está frustrado. Chora porque a ainda não sabe botar para fora de outro jeito. As palavras que já sabe nem sempre servem para contar o que acontece dentro dele. E bem, na verdade, mesmo que servissem ele ainda não consegue coordenar sentimentos e emoções com a fala. Bom, ele não tem 2 anos. Eu tenho 23 e ainda não sou boa nisso.
Ai, eu decidi (é, eu, foi unilateral) que tinha chego a hora do desmame noturno. Meu limite na amamentação chegou já faz um tempo, está ficando cada vez mais difícil me entregar e eu enrolei o quanto pude, mas só piorou tudo. E a sensação de que algo precisava mudar a muito tempo dentro do peito, decidi que precisávamos dormir melhor. Começamos o desmame noturno.
Já faz tempo que explico para ele do meu cansaço, que às vezes dar mamá me incomoda muito. Que a culpa não era dele e que eu ia continuar o amando para sempre. Mesmo sem o mamá. Disse também que teríamos que ir diminuindo as mamadas, para que eu conseguisse amamentá-lo por mais tempo.
Eu sei que ele não precisava mais mamar a noite. Sei que ele consegue ficar sem isso. Que podemos encontrar outras formas de carinho. Comecei o desmame.
Hoje foi o terceiro dia. E eu esperava realmente que o choro fosse diminuindo. Ele pede, eu explico que o mamá precisa descansar para ficar mais gostoso no outro dia, que nós dois precisamos descansar e a noite é para dormir. E ele chora.
Tenho a impressão que chorou menos nas duas primeiras noites. Por não ter ninguém conosco talvez? É mais fácil aceitar o choro dele quando estamos sozinhos e não me preocupo se vai acordar alguém.
Essa noite ele acordou no horário de costume, pediu mamá e eu expliquei de novo. Ele chorou. E chorou mais um pouco. Alto. Forte. "MA-MÁ".
"Será que vai chorar muito ainda?" - suspiro e silêncio. Retoma o fôlego, chora mais alto. "Ai, será que ele não tá pronto? Ele não devia chorar tanto, devia? Será que tô fazendo mal para ele? Será que fiz errado? Se eu der mamá agora vai ser pior?".
Eu sabia, daquele jeito que não se pode explicar, que eu não devia dar. Ia confundi-lo mais. "Falta muito para amanhecer?". Faltava.
E o choro não diminuía. E eu tentava trabalhar em mim "Ele tá pronto. Ele não precisa mais mamar. Não precisa. Eu tô aqui, eu tô aqui. Ele não está sozinho, não o estou abandonando". (Importante dizer que compartilhamos a cama, ele chorava junto comigo.)
Ele não queria nem mesmo ficar perto de mim. Chorava sentado e me empurrava. Respirei fundo e aceitei o choro. "Então, chora filho." - E ele chorou mesmo. Até se acalmar, se aninhar no meu colo e voltar dormir.
Algumas horas depois, acordou de novo, pedindo mamá de novo. Chorando, claro. Eu respirei fundo, de novo. "Será mesmo que ele está pronto?" - perguntei as horas para o pai do lado. Faltava para amanhecer, não era hora de mamar mesmo.
"O que eu preciso trabalhar em mim?" - respira fundo, ouve o choro, pensa. Meu impulso era dizer tudo que já tinha sido dito. O mamá tá cansado, amanhã tem mais, hora de dormir, eu tô aqui. Mas ele sabia tudo isso, já tinha repetido para ele mil vezes.
O que eu queria que fosse feito comigo? O que eu queria ouvir? Nada. Eu não ia queria que falassem, queria só botar para fora. Eu não sabia falar, só sabia chorar. Chorar era meu desabafo.
Era isso.
Chorar é o desabafo dele! Tão óbvio, tão claro... ele só precisava mesmo era chorar e que eu focasse nele, acolhesse.
Fiz isso. O que ele deve tá sentindo? Ele tá pronto, não precisa mais. Mas isso não que dizer que ele não sinta vontade ou falta. E ele tem direito de sentir falta, de ficar triste e bravo comigo.
Ele tem direito de chorar.
Chorar é o jeito dele elaborar mais esse rompimento.
O choro não representa que ele precisa mamar, mas é o jeito dele botar para fora o fim dessas mamadas. Eu fico me perdendo nos pensamentos tentando elaborar, mas não consigo aceitar o jeito que ele tem de elaborar.
Só deixei claro que estava ali, junto com ele. E só pensei nas coisas que gostaria de dizer "Chora, filho. Mamãe tá aqui. Quando quiser vir para o meu colo estou aqui".
E o choro parou rápido. Ele deitou longe de mim e eu tentei trazer para perto. Ele chorou, não queria ficar perto de mim, estava bravo comigo. Deixei ele deitar longe e fiquei fazendo carinho. Ele deitou no meu colo depois de algum tempo. E dormiu...
PS: Enquanto ele dormia no meu colo imaginei esse texto, e percebi que outro rompimento nosso que se faz necessário vai ser regado a lágrimas. Mas fica para outro post porque esse já virou livro.