terça-feira, 3 de abril de 2012

Do meu nascimento

Meio ano de Benjamin e tudo de bom foi dito pra ele. Só me sobrou esse post no peito, de dores que não sei se são ilusões, projeções ou se são minhas mesmo.

As sensações vem e não sei se são reais. Sinto a dor de ser arrancada do meu mundo, a falta de cuidado do toque que até então eu nem conhecia. Não era meu tempo, eu não queria sair, eu não sabia que ia sair. Não me consultaram, só me arrancaram de lá, do único lugar que eu conhecia. No lugar do conforto, da segurança e da proteção só ficou essa saudade de não sei o que, essa sensação de não ser daqui, de não ser de lugar nenhum.
E eu me vi sozinha, em um mundo que não me pertencia, havia silêncio e escuridão. Talvez houvessem barulhos, talvez houvesse luz, mas meus ouvidos não estavam prontos e meus olhos não encontraram os dela. Tudo doía, o que era aquilo tudo? Onde estava o conforto do líquido? A proteção e o calor do meu mundo? Chorei sozinha em lugar nenhum, era a única coisa que me restava e não resolvia. Chorei até que meus pulmões, inacabados, não aguentassem e dormi. No sono havia conforto. No sono eu podia sonhar que estava no meu mundo. E é no sono que encontro a saída até hoje, é para lá que fujo.
Não havia calor, não havia vida, eu caia no vazio e ninguém me protegia. E o toque que não tive hoje se reflete no pavor de ser tocada, não me toque, não encoste.
Eu sentia a sua solidão, era tão grande ou maior que a minha, ela queria a cria, ela queria. Mas não podia querer, não era o certo, não era. Os homens de branco é que sabiam, era eles que decidiam. Seu querer não cabia lá. Porque não traziam sua filha? Não, ela não podia pedir, quem dirá exigir. Aquele sentimento estava errado, inapropriado. Se calava frente aos onisciência do jaleco.
Não era seguro ali, ela fingia para si, escondia seus 'erros' dos outros. Tentava se encaixar, se ajustar, mas não podia esconder de mim. O medo, a insegurança, tudo que ela escondia dos outros, as sombras recaiam em mim.
E eu chorava entre os desmaios de sono, meu choro não era ouvido. De que adiantava chorar?  Eu dormia. De que adianta acordar? E nos meus sonhos eu mergulhava em uma piscina profunda, o tempo e o espaço se suspendiam, um salto de fé no líquido. É para lá que eu vou ainda, quando a cabeça funde.

Hoje devia ser dia de festa. Mas meu peito decidiu me lembrar de dores que nem sei se existem, e eu decidi acalentar o bebê em mim.


Um comentário:

Elaine* disse...

Belíssimo texto, Roberta!
Espero que tenha encontrado o conforto que buscava...
Bjo.