quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Matrix

Quando eu vi Matrix achei que não tinha nada entender nele. Um conceito simples: pessoas aprisionadas em suas próprias mentes controladas por uma máquina que criava sua própria realidade.
Mas a cada dia depois do meu parto eu vejo o que tinha para ser entendido. A Matrix é real, ela existe e estamos aprisionados nela. Esqueçam os efeitos especiais e a parte emocionante do filme. Não há pílulas que nós façam acordar, só informação.
Comecemos do começo. A mulher engravida, sua vida vai mudar por completo, a começar pelo seu corpo. Há muitas coisas para se pensar, tornar-se mãe é um dos maiores marcos na vida de uma mulher. Mas ela SÓ se preocupa com a decoração do quarto do bebê, com o enxoval e o chá de bebê.
Ela quer normal, mas seja o que deus quiser. Cesárea, claro. Mais lucrativa, prática e limpa. Com hora marcada a mãe pode fazer cabelo e unha, talvez maquiagem. Médico não precisa acordar de madrugada nem perde nenhum compromisso. O bebê tem mais chances de usar a super UTI neonatal que custou milhões, também tem mais possibilidades de adoecer e tomar coquetéis de remédios. Doenças respiratórias crônicas, refluxo... O bebê começa a se tornar um cliente perfeito para a indústria farmacêutica.
A mãe pode ter depressão pós parto, sem os hormônios do trabalho de parto o vínculo com o filho fica mais difícil e a amamentação pode ter complicações. Ótimo! Paciente para psiquiatras, e bora enriquecer as empresas do leite artificial. Leite artificial que traz desconforto para o bebê, não tem todas as vitaminas necessárias, não fortalece a imunidade. Tudo bem, mais remédios para as doenças que virão e vitaminas sintéticas a cada consulta mensal.
E ai o bebê começa a querer comer (ou alguém decide que está na hora, o que importa se ele quer ou não?). Comece com uma bolacha maizena, e qualquer outro industrializado. Danoninho que delícia, vale por um bifinho! Yakult que é saudável. Papinha da Nestlé porque cozinhar dá muito trabalho. E assim vamos entupindo bebês com falsos alimentos, feitos com ingredientes que nunca ouvimos falar, com realçadores de sabor que viciam o paladar e garantem que aquela criança não gostará de legumes. Criança essa já com a imunidade em baixa pela cesárea, pelo leite artificial e pelos remédios (antibiótico) que já tomou. 
Mesmo assim ela é ativa! Como gosta de brincar e pular, ah, mas a mãe/cuidador tem tanto para fazer. "fica quietinha vendo tv, fica." Nas primeiras vezes não funciona, mas há tanta insistência que, sem opção, a criança se resigna e se aquieta. Fica quietinha vendo tv. O corpo ativo, vivo, vai dando lugar a apatia. Vê tv comendo doces ou qualquer comida que traga um mínimo de prazer.
Mas isso vai mudar! Vai chegando a hora da escola, agora sim ela vai ter atividades que auxiliam no desenvolvimento, muitos amiguinhos para brincar e gastar energia. Quanta coisa pra aprender.
Chega na escola e se senta na cadeira. Não pode falar com o amiguinho agora! Professor lá na frente fala e fala, despeja conteúdo. E o corpinho cada vez mais apático, energia sendo acumulada, mente se enchendo de inutilidades.
Brinca 20 minutos por dia, na hora do recreio. Isso se desistir do bolinho recheado que veio na lancheira. 
E a criança vai crescendo. O corpo cada dia mais atrofiado. Na adolescência reclamam que é preguiçosa. "Sai da frente dessa televisão!".
Nessa fase já entendeu que o corpo é só embalagem. O que importa é mente e alma. Para que perder tempo se exercitando? Para que comer bem? Já não sabe ouvir o corpo. Sono? Espera acabar a maratona da série preferida. Sede? Xixi? Espera o comercial. 

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